abril 15, 2015

Apesar dos pêssegos

Apesar das pessoas não comedoras de pêssego pensarem o contrário, eu sou uma ótima amiga. Mais que isso, sou uma ótima aliada.

Sou daquelas que vestem a camiseta do time, compram a ideia, curtem, compartilham, e todas as metáforas e clichês de adesão e parceria que você possa imaginar.

Sou dessas que defende, que pega junto, que atende ligação de amigo bêbado a qualquer hora, que acompanho no batizado do cachorro do porteiro do vizinho do ex, e ainda ajudo a encher os balões e a organizar a mesa dos doces. (mentira, eu não encho balões porque tive uma embolia pulmonar e isso me dá direito de passar adiante esse tipo de tarefas, mas isso é assunto pra outro post.)

Eu sou tão legal, mas tão legal que acabo sendo chata. Muito chata. 

Porque eu antecipo as necessidades dos meus amigos, e estou lá, mesmo que eles ainda não tenham me chamado ou descoberto sozinhos essas necessidades. Eu estou lá calculando os volts do choque que eles vão levar se botarem os dedos numa tomada que nem sabem ainda que existe. E eu estou lá elaborando análises qualitativas de todas as probabilidades e estatísticas de escolhas que eles nem fizeram ainda, que nem sabem se vão um dia fazer, que talvez nem venham a fazer porque eu criei tantos números e planilhas e projeções que tudo parece chato e previsível e, olha, quem sabe a gente joga tudo pro alto e não faz escolha nenhuma, e faz assim, eu te ligo quando precisar desses dados todos, valeu?

E não é chato isso? É muito chato. 

Porque estou privando meus amigos das escolhas deles, do direito deles de decidirem a própria vida, de errar, de ponderar sobre os próprios erros, e desenvolverem o aprendizado sobre esses erros por eles mesmos. Estou impedindo que eles sejam justamente as pessoas por quem me apaixonei quando os conheci (porque eu me apaixono, em diversos e diferentes níveis, pelos meus amigos, e isso não tem nada a ver com amor romântico, que fique bem claro.), e isso é apenas o fim.

Porque eu passo por cima de qualquer coisa que possa ser considerada respeito, afeto, ou mesmo tolerância pelas eventuais divergências que tenhamos, meus amigos e eu.

E isso me torna muito, muito, muito chata. Beirando o insuportável.

Olhando agora, é impossível não pensar que a culpa é toda minha. Eu sei que estou indo na contramão do Mundo (em que é sempre bom encontrar a culpa das coisas nos outros, para me desvencilhar da responsabilidade do que deu errado tanto quanto possível, na maioria dos casos), mas nestes casos específicos, só consigo pensar que fui eu quem afastou as pessoas, não todas, vai, mas a maioria das pessoas que saíram da minha vida.

A vantagem de olhar bem friamente as coisas, é que elas deixam de te afetar emocionalmente. A vantagem de olhar para esses últimos episódios da minha vida bem friamente (pêssegos, embolias e afins) é que eu consigo traçar todos os meus passos. Livre de culpa, apenas entendendo a relação de causa e consequência, que sempre há. E entendendo isso, eu posso entender, respeitar e me relacionar melhor com quem ainda está na minha vida. De uma maneira mais saudável, menos possessiva, menos neurótica. Mais leve.

E leveza é sempre positivo.

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