junho 29, 2022

Tudo ao mesmo tempo agora em todo lugar

 Têm sido dias longos, estranhos, cinzentos.

O inverno tem arrastado seu manto de chuva e névoa por tudo, como uma lã sobre os olhos. Em dias assim é fácil perder a perspectiva das coisas, é bem fácil se perder na narrativa. E todos os dias acabam ficando misturados, num mingau de segundasterçasquintasfeiras sem distinção.

Mas de vez em quanto algo acontece, uma luz se acende. E a gente sabe, ou pelo menos já deveria saber, que basta uma pequena luz para que não haja mais escuridão.

Em muitos casos essa luz vem pela arte. Pra mim, na maioria dos casos, essa luz costuma vir do cinema. 

Fazia muito, muito, mas muito tempo que eu não chegava no cinema e me emocionava a ponto de ter os olhos lacrimejando de ficar com a visão turva.

E aconteceu hoje. Na cena das pedras. Uma cena em que nada acontece, contradizendo o título, e nada é dito (apesar de tudo estar ali hahaha), pelo menos não com palavras, como nós conhecemos, e há um silêncio pleno e robusto (não vazio nem sem sentido). Pensei em um milhão de coisas, acessei todos os universos que conseguia, e só consegui pensar que é isso, arte, o poder de nos sacudir e nos tirar do torpor de dias iguais e acessar todo um arco-íris de sensações e sentimentos provocadores.

Eu nem sabia que precisava desse filme, mas eu precisava.


 

(estou tentando falar do filme, mas sem falar do filme, e sim falar do que o filme provocou em mim, para lembrar, para guardar, para acessar numa próxima sequência de dias emendados e iguais.) (Sei que meu pai iria amar esse filme. Ou ama esse filme. Ou já amou esse filme.)

A arte nos provoca a estarmos no lugar em que estamos ao mesmo tempo que nos carrega para todos os lugares que podemos estar.

E é tão lindo isso, de que agora a gente pode falar de multiversos e diferentes possibilidades sem ser chamada de doida ou ser olhada de forma atravessada, porque é isso, existem múltiplas possibilidades, e a gente acessa aquelas que quer, ou, ainda, aquelas que consegue alcançar.

Na Cabalá, há muito se diz que não existe tempo e espaço nos Mundos Superiores, e que para nós esses são os limitadores do nosso mundo, da nossa realidade, mas que essa realidade não é a única. E que, sim, é isso mesmo, tudo acontece ao mesmo tempo agora em todo lugar no aqui-e-agora em que estamos.

O mais legal é essa ideia de que cada escolha que fazemos vai criando novas possibilidades e novas realidades e time-space continuums em que versões de nós vão vivendo as consequências das escolhas tomadas lá que não foram tomadas aqui. Ou seja, todas as escolhas são tomadas, escolhemos todos os caminhos, diferentemente do que falava Frost. Basta que a gente acesse qualquer um deles.


Ou todos ao mesmo tempo.

Acho que preciso assistir de novo.